sábado, 25 de maio de 2013

SÍNCOPE

Vou...
aconchegar-me-ei no teu cansaço
que, de tanto divagares, andas farto
e falta-te o ar no peito inteiro, todo

Vou...
e dar-te-ei um pouco do meu muito vento
que, cá, rega os meus impulsos em galopes extremados
cardiovascularizando a pele; penso

...que assim serias meu, bem como já sou tua
e suo na subida da colina, longe, alta, horizonte ensolarado
- tanto, tanto que, fechando os olhos, me atiro -

Voo...
e pouso nesses braços fortes, destino escolhido, apalpo a calma
- novidade nesta vida - que exala das tuas mãos e boca e pele
tateio as bordas do sossego tão sincero que ofereces


...acarinhando a tua face, sinto que, silenciosamente,
a alma minha se despede
purpurinada à brisa vaga, calmamente, desfaleço...


SÍNCOPE - Lena Ferreira - maio/13

quinta-feira, 23 de maio de 2013

DISFARCE

São esses olhos que quase desaguam
e mal disfarçam uma dor profunda
que dizem tanto quando dizem nada
que me revelam a mágoa que te inunda

São esses gestos sempre tão discretos
e tão contidos num estranho medo
guardando um quê por entre vão dos dedos
que me revelam em silêncio secreto:

É com essa calma que tão bem ensaia
 beijando a brisa desejando o vento
que tu sorris pra que o choro não caia
me diz, pra que protelar o tormento?

O choro lava a alma e limpa a mágoa
pergunto, então: por que tu não desaguas?

DISFARCE - Lena Ferreira - maio/13

SUTILEZAS

Essas sutilezas que me vestes
- delicadezas fartas e tão raras -
vão deixando na pele,  pistas claras
da intenção primeira que revestes

Com as notas da canção em solfejos
cantada co'essa voz tão bela e forte
fazendo bússolas perderem o norte;
tremula a alma minha de desejo

Ah, esses detalhes  cheios de cuidado
ah, esses cuidados cheios de detalhe;
eles aumentam a vontade e a certeza

De querer, sempre, estar ao teu lado
e de que viver nessa vida só vale
se atentarmos para as sutilezas

DETALHES - Lena Ferreira - maio/13

quarta-feira, 22 de maio de 2013

PARTO


Fosse esse seu silêncio estéril
e ainda virgem, solteiro e senil
seria em seu tempo a partida
com a vida seguindo levemente

Mas não...

Trouxe consigo o vigoroso vício
das verdades absolutamente analíticas
nas pausas grávidas de afrontas e tiques
salmourando cílio a cílio

Fosse esse seu silêncio estéril
evitaria um parto prematuro

PARTO – Lena Ferreira – maio/13

terça-feira, 21 de maio de 2013

CHAMA

Deitada no teu peito, ternamente
coberta pelos dedos consagrados
isenta de pudor e de pecado
sussurro poesias lentamente

Percorro tua pele que, tão quente,
derrama-se em suores destilados
inflama, alma a alma, lado a lado
e aumenta o desejo já ardente

A chama acesa permanece pura
enquanto o amor no leito se derrama
num frenesi que beira à loucura

O tempo, adormecido, não reclama;
enquanto nós trocamos ternas juras
segredos viram cinzas nessa chama

CHAMA - Lena Ferreira -

segunda-feira, 20 de maio de 2013

REVENTA


Vento
que vem tão forte
ventaneja tempestades
nas dobras
da semimorte
que me sopra inverdades

Enverga
do sul ao norte
os pendões da falsidade
derruba-os
sem fero corte;
reventa sinceridade

REVENTA – Lena Ferreira – maio/13

sexta-feira, 17 de maio de 2013

QUASE VENTO


Pois se deságuo feito chuva em sua senda inteira
ascendendo o fogo morno, afagando brasa em pele
- afogando pelos em apelos -
é porque, nuvem sendo, condenso saliva, suores, humores
desabando em ciclo vivo no céu sereno que sua boca quente

Há desassossegos imersos nesse mar de calma aparente
seguros no fundo por crivos acidulados pela inconstância

Sendo assim, traga a boca da alma pra mais perto
beba da palavra sacrossanta que ofereço
e matarei sua sede com o vinho extinto do segredo:
embriaguei-me com essa brisa leve, quase vento,
que esconde por detrás desses seus olhos de sol...

QUASE VENTO - Lena Ferreira – maio/13

quinta-feira, 16 de maio de 2013

ÀS FLORES


Era preciso agradecer às flores
angelicais, perfumadas e tantas
pelo conforto para as suas dores;
àquelas que travavam a garganta

Era preciso agradecer, e tanto,
por preservarem esse juramento:
o mesmo sol mas com um novo encanto
como um sussurro no seu pensamento

Era preciso, e com muita ternura,
agradecer, agradecer e muito
pela promessa, tão límpida e pura
que, finalmente, cumpriu o seu intuito

ÀS FLORES – Lena Ferreira – abril/13

quarta-feira, 15 de maio de 2013

LENIMENTO



Nestes dias de tristeza, desencanto
intentando encontrar um lenitivo
que me faça resistir, mantendo ativo
o motor que pulsa no esquerdo canto

Percorrendo o nosso ontem, teço pranto,
recordando dos momentos que, passivo,
vi morrer a míngua o que me punha vivo:
teu amor, tua doçura; tanto encanto


Nestes dias de tristeza, só a morte
viraria a mesa e, talvez, com sorte
sob a terra, a sete palmos, os meus ossos


Serviriam, para os vermes, de alimento
e a alma encontraria o lenimento
que não tenho nestes dias; só remorso


LENIMENTO – Lena Ferreira – maio/13

ANIQUILAÇÃO


Esses dias tão iguais
onde a lástima desfila
e seu visco vil destila
com promessas abissais

Me cansei de tantos ais
é mal que a alma aniquila
derrubando, a quem vacila,
com trovões e temporais

Esses dias repetidos
vão soltando seus gemidos
contaminam quarto e sala

Onde os nossos tempos idos?
Hoje vão descoloridos
onde só o silêncio fala...

ANIQUILAÇÃO – Lena Ferreira

quarta-feira, 8 de maio de 2013

PROPOSTA


Não é de mágoas o verso que eu canto
nem de lamento propriamente dito
Pergunto, então: por que o andar aflito?
Por que perder, da vida, o encanto?
.
Já nem sei mais porque eu choro tanto
e ainda mais choro se mais eu reflito
O pensamento em vão, vaga ao restrito
do fosso fundo da calma; só pranto
.
Ah, quem dera saber a resposta
para estes míseros questionamentos
minimizando o inútil sofrimento
.
Mas vida é vida e sussurra a proposta:
(basta saber se eu estou disposta)
- Feche suas portas por breve momento

PROPOSTA – Lena Ferreira – maio/13

segunda-feira, 6 de maio de 2013

IN VENTO


É o vento
que tange o poema-loucura
de verso inconcluso
com verbo indeciso
trazendo pra perto
o veneno e a cura
levando pra longe
o sorriso e o juízo

É o vento 
que tange o poema imperfeito
de estrofe alquebrada
cheio de ruído
trazendo pra perto
o acerto e o defeito
levando pra longe
o vazio doído

É o vento
que tange o poema e poema
com letras e pontos
de exclamação
trazendo pra perto
o fim do problema
levando pra longe
a interrogação

É o vento
que in vento
é o vento
que in vento
 
IN VENTO - Lena Ferreira -

POR HORA

Não há portanto no instante resistente
nem mais saudade de torpor insustentável
e os defeitos exclamados pelos tantos
são devaneios de Pandora aborrecida

Não há mais vento, ventania ou tempestade
nem mais marés em tantos cantos insistentes
por entre as veias, corre um rio fresco e manso
e uma brisa morna embala os pensamentos

Não há mais grito no enquanto tão silente
nem mais sussurro acordando a lua avulsa;
das mãos exala um misto de verbena e lírio
e os pés, por hora, tocam levemente o chão

POR HORA  - Lena Ferreira -

quarta-feira, 1 de maio de 2013

HÁ DEZ MAIOS

Estio é o endereço certo e seco
desses olhos baços de brilho morno
de onde, intensa, a má água ainda transborda
e canto a canto porém aparentemente é calma
à expressão colhida cedo na vaga lua madrugada
fria e imensa; tanto que esbarrou na esquina doce
de anis estrelado lambendo o céu da tua boca, sim...

Há desmaios nesses verbos, sinto
também, há galopes no meu peito, não minto
há  avalanches e enterro de promessas
vagaromentirosas, esguias e cãs

Entre os tantos cacos de incertezas
depositarei os meios nus, tensos e tesos
para que transporte a carga altiva e viva
a fim de recuperar as asas de voar tão alto
e , de novo, levemente, pousar meus lábios
nos teus lábios cor de espinho virgem e quente

- que jamais me feririam mas que já me deixaram marcas -

HÁ DEZ MAIOS - Lena Ferreira -

segunda-feira, 29 de abril de 2013

DESTINO

Eu canto, com ou sem motivo
sorrio até sem ter vontade
não pense que por vaidade
mas sim para manter-me vivo

Meu coração não é cativo
só segue o que lhe dá vontade
alheio às tolas verdades
a parte; assim, eu sobrevivo

Eu canto e, como em qualquer canto,
às vezes, também desafino
mas nem por isso perco o encanto

Por mais que viva, sou menino
qual um passarinho em voo amplo:
é assim que sigo o meu destino

DESTINO - Lena Ferreira - abril/13

ESTÁGIO

Estágio em cansaço vadio
esgrimam o ócio e o vício
esmolas de pão e de vinho
esmagam o fim mais propício

Desvelo novelando o fio
deslumbre do vão-precipício
desvio do verbo; adivinho
desterro em terreno difícil

Inverso do medo arredio
inverno mostrando o indício
interno o externo mesquinho;
invento outro fim pro início

ESTÁGIO - Lena Ferreira - abril/13

domingo, 28 de abril de 2013

MAIS UM CLICHÊ

Menos expectativas geram infinitas surpresas; é fato! Clichê também mas tão certo que é sempre bom ter isto em mente. Diminua a ansiedade da espera, principalmente por uma postura ou atitude do outro. Faça sua parte, independente do outro. Seja, simplesmente por você e não pelo outro e o resto virá e mesmo que não venha amanhã ou depois, a semente foi plantada e, de repente, florirá num campo que você menos imagina; eis a surpresa, sem ensaio! Com desejo de uma semana tranquila, deixo um beijo azul em cada um que por aqui passar. Domingo lindo, por dentro e por fora, queridos. Lena Ferreira

quinta-feira, 25 de abril de 2013

COMBINADO?

Então fica combinado que, a partir de hoje, não voltaremos ao passado inutilmente.
Que sejamos, tão somente, visitantes breves dos fatos que mereçam ser repetidos e não seus hóspedes permanentes.
E que não sejamos meros expectadores do nosso futuro, nem de leve, e sim, trabalhadores árduos neste merecido presente. Combinemos que, com sutilezas, ergueremos pontes, derrubaremos muros, alargaremos horizontes. E, retirando o pó das palavras construtivas – ouvidos atentos aos detalhes que o vento nos traz – iremos além.
Que sejamos, de fato, presentes - modo e adjetivo - e tenhamos motivos de sobra para comemorar o simples fato de estarmos vivos.

Lena Ferreira

quarta-feira, 24 de abril de 2013

TUAS ÁGUAS

Acomodas tempestades e no teu peito
há um vão tenso de onde escorrem vãs palavras
em lavas que inundam o quarto e a sala
e não cala o verbo que eu não quis ouvir

Fala de nós ao vento que passa ao longe
enquanto chamo a brisa para o nosso lado;
ela vem mas logo parte e em desassossego
rego o canto com meu canto de te amar

Não é doce a voz que sai de mim; é trêmula
carregada de um tom acovardado – refreio -

Não soubeste precisar nada além desta imagem
impregnada por detrás dos olhos negros, pequeninos
moles de tanto te ver e ver; tão perto e tão distante

Teu peito é um não imenso; incita tempestades
alargando o canto esquerdo com mais m'águas

TUAS ÁGUAS - Lena Ferreira - abril/13

segunda-feira, 22 de abril de 2013

CATORZE

Os catorze que aqui vão, sem disciplina
rasgam regras e não prestam continência
no quartel da academia de excelência:
mancos, pobres, loucos; babam na rotina

São catorze desafetos às retinas
embotadas e com pouca paciência;
logo deitam o selo de incompetência
no soldado que faz o que não domina

São catorze e mesmo presos pela rima
são tão livres por fazerem o que primam
mesmo com dura censura nessa forma

São catorze! Livres, sim, da pretensão
de alcançarem, seja um dia, o escalão
desejado pelos presos a uma norma

CATORZE - Lena Ferreira - abril/13

PELA VIDA

Pela estrada sigo firme, vou cantando,
desde quando o sol desponta até a lua.
Firmes passos no compasso, caminhando,
vez por outra, ponho minha alma nua.

Sinto o cheiro deste vento. Vou passando
Um perfume de verbena se insinua,
beija o rosto, vai a alma perfumando,
passos firmes vou seguindo pela rua.

Pela rua eu encontro tantas flores,
me recordo dos meus tantos mil amores,
revivendo na visão do pensamento.

Os espinhos que causaram tantas dores
hoje servem de lição, de ensinamento.
Pela vida sigo firme, vou com o vento!

PELA VIDA - Lena Ferreira -

domingo, 21 de abril de 2013

CONJUGANDO

Que me desculpem os gramáticos de plantão;
pra mim, amar é verbo de ligação...LF

CONDIÇÃO

Mas se me perco é porque ainda me procuro
Não esconjuro nem blasfemo; sigo em frente
- serenamente é pretensão; às vezes piro
entre um delírio e outro a vírgula pontua -

Se insinua que, por isso, sou volúvel
eu não lamento; sinto muito, mas respeito
Este é meu jeito, é condição indissolúvel
mas, diferente de você, eu não me acho

Lena Ferreira - abril/13

SEI LÁ

Sei lá o porquê de escrever assim, dizendo o que me vem à mente em versos reticentes e desconexos; incompreensíveis. De certo é pelo vício adquirido de me deixar vazar pela luz da lua e deitar-me com as estrelas frias, diariamente; sei lá porquê...
Talvez pelo fato da agonia cortante que me aflige a alma, - insistente-
queira esvaziar-me por breve instante. Talvez...Só sei que, quando escrevo assim, -relatando as marés que me consomem- sinto um conforto doce, embora passageiro, que tempera a acidez de minha alma.
Sei lá...Podem me lançar rótulos, os mais diversos e confusos, mas não abrirei mão dessa demência de por a alma à luz desses julgamentos diários. Sei lá porquê...

SEI LÁ - Lena Ferreira -

CHOVEU

E choveu aquela menina;
tempestade sem trovões
raios de olhares tortos
censurando seu perdão

Choveu tanto, tanto, tanto...

Não tento entender o intento
mas sinto como sendo minha
a poça onde descansa agora
sua calma desesperada e só

CHOVEU - Lena Ferreira -

SINTO

Às vezes, me pego revendo os rabiscos e desenhos primários dos meus filhos quando bem pequenos. São traços incertos, cores desencontradas, pinturas desobedientes ao espaço imposto mas, gente, como são lindos! Como são importantes para eles que fizeram e para mim que recebi, mesmo que, a primeira vista, não fizessem sentido; me tocam e eu sinto, é o que importa. Hoje, li uma mensagem que dizia mais ou menos assim: ''a vida é da cor que a gente pinta.'' Diria que é, também, da cor que a gente vê e que, traços, rabiscos e curvas, não precisam fazer sentido, desde que nos façam sentir.

Lena Ferreira

sexta-feira, 19 de abril de 2013

UMBILICAL


Tão certo como o azul do céu
desperto e vejo o mar além
meus olhos vão num vai-vem
tenho um segundo para recordar

É tanto tempo que o tempo tem
mas não me prendo; bom é divagar
em um segundo nascerá alguém
também, em um segundo, morrerá

Tão certo como um mais um
deu três, eu vou ser bem feliz
pois ser feliz depende só de mim
de mim, de mim; de mais ninguém

UMBILICAL - Lena Ferreira -

URGÊNCIA

Não te quero tarde; te quero agora
Urgentemente mas isento de pressa
O dia encontra a lua com a promessa
de rutilar o amor e sem demora.

Amar-te às claras na vaga brisa leve
É mágico encanto; é calma e calma
Que acalma esses delirantes traumas
Queimados em fogueira; chama breve

Cadentes num amar constante e puro
Anima por mim mesma a alta estima
Sucedem voos em saltitos leves

Dois corpos flutuando; vejo, juro
Em êxtases e espasmos; verso e rima
carinho letra a letra; urgência é greve

URGÊNCIA - Lena Ferreira -

quarta-feira, 17 de abril de 2013

MADRUGADA




A languidez desse silêncio arranha
se arrasta pelos cantos mais estranhos
compõe as madrugadas desses dias
tão frias, as letras sobram no papel

Qusera um grito insano e ensurdecente
varresse essa saudade que não cala
resvala em todo cômodo conforto
roçando as janelas com seu vento

Um nó no pensamento que vagueia
mais uma taça de cheia de agonia
e a frase, tão aflita, morre à míngua
aos pés do sol que ainda vai nascer

MADRUGADA - Lena Ferreira - abril/13

terça-feira, 16 de abril de 2013

ABRIGO



Abrigo de tormentas e calmarias
diriam que, por isso, sou uma atriz
eu fiz por merecer essa bagagem
- aragem passadiça, desconforto -

Meu porto é inconstância permanente
agente em céus de organza nessas fases
e as frases que me lançam em desvio
são fios que, mais ais, cumularão

Se o teu senão dissesse claramente
o que na mente escondes, que alegria!
mas não, só sugestão; calo em meu peito
é o jeito de seguir sem temporais

Abrigo calmarias e tormentas e alguns ais;
aguenta, alma minha, somente um pouco mais...

ABRIGO - Lena Ferreira - abril/13

segunda-feira, 15 de abril de 2013

SURTO POÉTICO

Quero mais é ler o sol sorrindo
poeira de beijos no pé da estrada
ouvir os sussurros dos lírios
e os delírios na boca da madrugada

Quero mais letras, livres, leves, voando
no ritmo do impróprio pensamento
desmedidas, sem régua, sem regra,
sentindo o gosto dos seus ventos

Quero o imprevisto do improvável
às cegas para a monotonia
e sentir o susto mais palpável
de mais um surto de poesia

SURTO POÉTICO – Lena Ferreira – abril/13

ESTAÇÕES

Quando meu peito inverna,
chovo forte
- trovejando ventanias
alago o leito em prantos -

Nessas horas,
seu sol-riso vem, mansinho
e dissolve as nuvens gris
do meu pensamento-temporal

Sopra seu hálito de brisa morna
secando todos os cantos

Recolhe as folhas do meu outono
semeando com tanta ternura

Prepara meu território inteiro
para receber a sua primavera


E o efeito, não demora
logo, logo, verão





ESTAÇÕES - Lena Ferreira -

FASES

Semicerrados, olhares se observam arteiros, em promessas absurdas invadem os meios inteiros e se instalam nos tantos cantos escusos, recatados Semioculta, a lua, cheia em fases bisbilhota esse comportamento infante: quatro olhinhos brincando de verdades duas bocas salivando diálogos silentes Nascem promessas avessas e caras florescem gramas nas areias da praia e uma brisa mole e morna destila o ar ouvindo o suspiro da noite em quases Pausando no vão dessas frases não ditas brindam com olhares na taça da calma e seguindo o universo na alteração da rota mudam a fase cheia para uma lua nova FASES – Lena Ferreira -

DANÇA

E dança a menina ao sabor da brisa pensamento vago Bem perto do lago uma dor a escraviza que até a desatina Lânguida e leve suspiros macios silêncio profundo Percorre o mundo mergulho no estio do momento breve E dança, e dança em dó, rodopios em si, contradança No equilíbrio, avança e a mais um desafio - coragem - se lança DANÇA - Lena Ferreira -

PLENA

Quando seus olhos beijam os meus, sinto-me, inteira Abraça meu mormaço e desembaraça o meu pensamento Um vento leve, quase brisa vem e eterniza essa carícia plena Serena, a madrugada segue e não há quem negue; faz sentir-me plena PLENA - Lena Ferreira - abril/13

RENDIÇÃO

E a sensação do quase quase que enlouquece faz-nos tremer na base corpos estremecem fica suspensa a frase aquela que enternece - salivam poros e pelos - Percorre-nos por dentro a alma inteira sua faz-nos perder o centro em ida e volta à lua assim é noite a dentro; é meu e eu sou sua - rendamo-nos aos apelos - RENDIÇÃO - Lena Ferreira - abril/13

ENSAIO

 
E sai o sal
do sol
e o céu
devolve o sumo
ensaiando
vaga, abundo
pela rua
marginal

Esvai-se tal
além do véu
de ver o mundo
deslizando
vaga, abundo
pele crua
temporal

ENSAIO - Lena Ferreira - abril/13


BALÉ



E foi, recolhida no casulo-pensamento,
foi, refletindo sobre o tolo movimento
foi, rogando para ter temperança

Foi, resolvida a aguardar com paciência
pelo momento de sua autoindulgência
consciente que o tempo só avança

Aos poucos, as asas foram tomando forma
enquanto sentia na alma a reforma
e o abraço verde e leve da esperança

Enfim, o rompimento do casulo; renovada!
na sua mente, borboletas em revoada
coreografavam o balé da mudança!

BALÉ – Lena Ferreira – abril/13

GAZE



Sobre relacionamentos
digo, sem constrangimento,
conviver esgarça qual gaze:

Às vezes, somos fissuras
feridas na alma; ranhuras
um artigo pedindo crase

Às vezes, um afastamento
por mero desentendimento
mas quero crer ser só fase

Às vezes, somos harmônicos
momentos que, tão sintônicos
desvencilhamos do ''quase''

Às vezes, a monotonia,
rotina a desarmonia
acidulando as frases

Mas penso ser tudo isso
que molda o compromisso
desde que o momento case

Pondero em delicadeza;
a vida exige destreza
conviver esgarça qual gaze.

GAZE – Lena Ferreira – abril/13

FÚTIL


E se lançou em precipícios
abismos fundos, deu indícios
de apalpar constelações

Correndo atrás de qualquer vento
foi que atingiu o firmamento
com o peito em doidas pulsações

Dançou nas nuvens mas, inútil,
o seu motivo era tão fútil
só preenchia o ego, em vão

''De que me servem, então, estrelas?''
entristeceu-se por não tê-las
dentro da palma, além da mão...


FÚTIL – Lena Ferreira – abril/13

DEUSA


Contemplemos esta noite que desfila
num vestido deslumbrante de mistérios
salpicado de brilhantes que cintilam
e transformam o momento em etéreo

Contemplemos esta dama dos segredos:
no silêncio sepulcral da madrugada
tanto grita, que acorda alguns dos medos
na alma incauta que transtorna, enluarada

Tão materna que, de uma forma estranha,
acalenta dores várias e cansaços
encobrindo com sua sombra tamanha
muitos nós dos sós e dos sóis, o mormaço

Deusa estranha, adornada pelo tempo
simples, fácil; frágil é seu movimento

DEUSA – Lena Ferreira – abril/13

quarta-feira, 27 de março de 2013

UM

Há versos que dormem
na beira de um lago
de sabor amargo
sonhado por mim

Em mil pesadelos
contorcem as letras
que, obsoletas,
desfazem-se afins

Há versos que dormem
no meio da rua
com gosto de lua
em fases de mim

Ditando-me frases
de bases tão cruas
expoem-me ao acaso
descaso sem fim

Há versos que dormem
e eu, acordada,
tateio, em olhares,
lugares sem fim

Lambendo meu pranto
me atiro no leito
nem busco no peito
nem busco em mim

Um verso imperfeito
na certa, acordado,
tranquilo e sereno
querendo o meu sim


UM - Lena Ferreira - rev.março/13

segunda-feira, 25 de março de 2013

NUVEM


Quando fui mar, tentei rasgar dois oceanos
e com esse plano, me perdi nas muitas rotas
das densas ondas de espumas fractais
que, urgentemente, devolviam os meus ais

Regurgitava o que do fundo revolvia
e dissolvia a razão tão de repente
sinceramente, não sabia mais se via
ou imaginava o que estava à minha frente:

Mais de dez vultos, embaçados, e falavam
em uma língua que, entender, não conseguia
mas insistiam com um sorriso convincente
e a viagem, a grosso modo, prosseguia

Quando fui mar, ralei a alma em rochedos
por aceitar a incitação de qualquer vento
- evaporei e aguardo, num céu de estio,
pra deslizar no curso de um perene rio. -


NUVEM - Lena Ferreira - março/13

sexta-feira, 22 de março de 2013

A VIA


Havia o som dos silêncios aflitos
que divisava o espaço entre a boca e a pele
suspiros suspensos causando arrepios
e alguns segredos macios prestes a desabrochar

Havia o abismo infundado e arredio
que separava o voo do seu arremesso
em linha tão tênue, em sede-precipício
e o avesso da calma querendo queimar

Havia o desejo incontido, fremente
que inflava o peito em batidas fatais
em descompasso à razão; rarefeito
e muitas gotas a nos encharcar

Havia, e a via, do meio ao princípio
recomeçava até que, ao final
entre espasmos, sussurros, sem frio
morremos, plenos, dentro de um olhar

A VIA - Lena Ferreira - março/13

quarta-feira, 20 de março de 2013

PLANTIO


Era feita de nuvens esparsas e estrelas frias varriam o céu da sua boca. De quando em vez, cuspia em vãos olhares que, ditos vulgares, deitavam-lhe apontamentos. Catava lágrimas em terreno infértil e seco, bebia mágoas em fontes alheias. Erguia muros em torno dos próprios destroços e no seu rosto, o riso não se desfazia. Puro disfarce, sei, pois por dentro jorrava o sangue de letras rotas entorpecendo o pensamento. E quando o vento lhe acenava, imaginava o seu livramento. Mas, ledo engano, sempre colhia a tempestade dessas verdades desinventadas que semeava paulatinamente contra o tempo...

Plantio - Lena Ferreira - março/13

AGORA

Porque a vida é agora
sem o excesso do passado
nem a ânsia no futuro
eu alcanço a minha paz

Porque a vida é agora,
é o instante reservado
se for claro ou escuro
enfrentá-lo, sou capaz

Porque a vida é agora
e o segundo é ser alado
não se equilibra em muro
e nem olha para trás

Porque a vida é agora
sem dilema calculado
se me corto, sei que curo
aprendi; não choro mais

Porque a vida é agora;
um instante sem demora!


AGORA - Lena Ferreira - março/13

segunda-feira, 11 de março de 2013

CONCERTO


Deu pra escutar
o som das cores
e rabiscava em sonata
o que ouvia.

A melodia transbordava
um oceano
que desaguava
pelos olhos que ouviam.

 - um mar imenso
colorindo o desacerto
e o som das ondas
aplaudindo esse concerto. -

Concerto - Lena Ferreira - março/13

MADRUGANDO SILÊNCIOS

Enquanto a noite respira silêncios, mão aflitas se afogam em saudades de um passado cuidado, tão presente, onde olhares silentes trocavam verdades....No desespero, se agarram às estrelas onde penduram todas as suas queixas. Apressam a noite e, tentando aquecê-las, madrugam silêncios acordando o sol...

Madrugando silêncios - Lena Ferreira.

JURAMENTO

Sentindo o vento da inútil espera
parti, alucinada, à tua procura
acompanhada pela ânsia-fera
convulsionei meus pés em sã loucura

A cada passo meu, o teu -pudera-
se afastava mais na noite escura
crescente, o desespero, tal qual hera
fazia-me lançar a insana jura:

-Depois que te encontrar, me distancio;
juro! Bem sei que estamos por um fio
melhor é estancar o sangramento!

(...eu beberei teus olhos em aceno
na despedida, o sorriso sereno
se apagará junto com o juramento.)

Juramento - Lena Ferreira - 11/3/13

sexta-feira, 8 de março de 2013

BREVE GREVE



BREVE GREVE
(Lena Ferreira)

Não te quero tarde; te quero agora
Urgentemente mas isento de pressa
A lua encontra o dia com a promessa;
fazer brilhar o amor e sem demora

Amar-te às claras na vaga brisa leve
É mágico encanto; é calma e calma
Que acalma os delirantes traumas
Queimados em fogueira; chama breve

Cadentes num amar constante e puro
Anima por mim mesma a alta estima
Sucedem voos em saltitos leves

Dois corpos flutuando; vejo, juro
Em êxtases e espasmos; verso e rima
carinho letra a letra; urgência é greve

ESSAS MULHERES



ESSAS MULHERES
(Lena Ferreira)

Essas mulheres
que desfilam competência
são filhas da desobediência
das velhas ordens sociais

Essas mulheres
netas da censura
negaram-se à clausura
dos seus vívidos ideais

Essas mulheres
desafiam o vento
correndo contra o tempo
fazem o dia render mais

Essas mulheres
são trabalhadoras
estudantes, mães, educadoras
conselheiras e até pais

Essas mulheres
são mulheres de fato
corajosas, assinaram um contrato:
dar o seu melhor em tudo que for capaz

...e, ainda, um pouco mais

ASSIM


ASSIM
(Lena Ferreira)

É assim que me entrego à vida; como as águas do mar que se rendem ao vento. A princípio formando marolas tímidas
mas que, pouco a pouco, vão se avolumando e formam ondas caudalosas onde sei que saciarei a minha sede de viver intensamente.
Num mergulho inteiro e profundo, bebo todas as oportunidades que o sol me apresenta ao amanhecer. Emerjo praticamente saciada mas prossigo; transpirando possibilidades, saboreio a brisa que crispa as ondas mornas. Aportando ao entardecer nas areias do tempo, aguardo, quem sabe quieta, pelo brinde da lua para mais uma intensa e urgente entrega. Assim, eu vivo.

PROMESSA



PROMESSA
(Lena Ferreira)

E um amor prometido pelo tempo
cria asas e derrama-se no vento
Intocável como a pedra na colina
solidário, cúmplice e puro e livre

Enlaçados entre nuvens e orvalho
colhem o néctar da pureza eterna
enviando sinapses estelares várias
pensamentos refletidos em sorrisos

Quão lindo é um amor assim...

Crente, silente e ciente do Eterno
e da Promessa da Vida Na Luz Maior.

terça-feira, 5 de março de 2013

VENTANTE



VENTANTE
(Lena Ferreira)

Vento vasto, varre e verte
vozes de sonhar ao longe
leva meu pensar tão leve
a atingir picos e montes

Vento vibra, a voz inverte
arremassando promessas
atingindo a mente em greve
açoitando vãs remessas

Vento venta, fortemente
assassinando torturas
libertando toda mente
que se esquece na clausura

Vento avisa e brisa a folha
sacudindo o pó da escolha

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

APELAÇÃO

Quando o julgamento antecede o depoimento, não haverá argumento capaz de absolvê-lo, réu; apele para o silêncio...

Lena Ferreira

IMPERCEPTÍVEL

IMPERCEPTÍVEL 
(Lena Ferreira) 

Eu te vi por aí, cabisbaixa
errando esquinas e bares
bebendo restos de saudade
em copos cheios de mágoa.

Ias linda, não fosse o rímel borrado...

Teus lábios carnudos e roxos
esboçavam um sorriso simples
e na sinuosidade do corpo
um vestido de nuvens; flutuavas.

Tua alma sobrava, frouxa e deserta

Os olhos orvalhados me procuravam,
sei bem; tanto que me pus à tua frente
tentei te abraçar e tu recuaste - medo?
é que, às vezes, me disfarço de ausências.

Eu te vi por aí e tu não percebeste, amor...

PERMITA-ME


PERMITA-ME
(Lena Ferreira)

Permita-me dizer-te uma palavra
Talvez sejam duas ou três
Não sei bem

Permita-me tocar-te uma única vez
E sentir-te como se fosses o primeiro
E beijar-te como se fosses o último

Permita-me olhar-te assim
Do meu jeito:
Meio louco, meio ingênuo
Meio santo, meio demônio

Permita-me desejar-te
Por alguns minutos
Ou horas, talvez
Preso em meus olhos ansiosos

Permita-me amar-te assim
Louca, intensa e infinitamente

...enquanto houver amor.

SÚPLICA


SÚPLICA
(Lena Ferreira)


Porque tua pausa parece infindável
e tua lira, ópera inteira; orquestra
tocando a partitura dos meus poros
em notas tão perfeitas e sonantes

Porque teu verso carece meu inverso
e tuas letras, crianças peraltas
aprontando fuzarca no meu sítio
trazendo ventura pros meus dias

Porque teu verbo parece silente
e teu silêncio é grito mudo, eterno
suplica por peles cruas, pelos tesos
causando espasmos na alma casta

Porque tua causa ´parece urgente
e tuas promessas perfeitas, cabíveis
imploram aos deuses gregos e pagãos
pela redenção de um pecado imortal

Porque teu porquê é tão convincente
repenso e te perdoo novamente...

ENLEIOS



ENLEIOS
(Lena Ferreira)

Enquanto a noite descia
vagarosamente
escutava o passado rir faceiro
dos olhos lacrimosos
namorando espelho
trincado
quarto
frio

Estrelas salpicavam
a negritude
de um céu imenso, imenso
a exacerbar
todos os enleios
derramosos, quentes
de um ser que não
se
via
nem se
cria

Havia vento,
um vento caloroso em abraço
que acalentava a alma
entristecida e em cismas
divagava; possibilidades tantas
futuro entremeios
se morria

Enquanto a noite tecia
a colcha de detalhes
com borda de sonhos
escutava o futuro
preguiçoso
a
cor
dar

NAUFRÁGIO


NAUFRÁGIO
(Lena Ferreira)

Seus olhos
tão negros, tão puros
tão cheios de candura
por um torpe desengano
transformaram-se, distantes,
em duas poças de mágoa.

Seus olhos
já frios, escuros
perderam toda a ternura
transbordaram o oceano
onde eu, pobre navegante
bebi quase toda água.

Seus olhos
tão cheios de esperar
lançavam um olhar tão frágil
para além, além do mar
como a prever meu naufrágio
onde afogar-me-ia
mas o que eu mais quereria
era naufragar no seu olhar.

- releitura de SEUS OLHOS - Gonçalves Dias

LÍQUIDOS


O céu, coalhado de nuvens alaranjadas, anuncia mais um dia de calor infernal mas eles, que vem de uma noite transpirada, não se importam com o que virá pela frente; abasteceram-se de líquidos madrugados, saciando sedes para mais de um dia. E embora a promessa deste sol que se levanta seja de inferno, dois sorrisos cúmplices se abrem, satifeitos e certos de mais uma lua no paraíso.

Lena Ferreira.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

SILÊNCIO MUSICADO

SILÊNCIO MUSICADO
(Lena Ferreira)

Foi do silêncio
qe nasceu a melodia
ante a euforia
que rondava quarto e sala
fechou os olhos
pro passado - finalmente -
não de repente
- pouco mais que um piscar -
e eram notas
tão suaves, delicadas
onde o perfume
impregnava o ambiente
e era tão lindo
esse silêncio musicado
que não podia
- nunca mais -
manter-me mudo
mesmo ciente
de ter sido descuidado
de ter mantido
- há tanto tempo -
o ouvido surdo