quarta-feira, 19 de setembro de 2012

CAOS


CAOS
(Lena Ferreira)

Nada  mais tenho
a oferecer-te, amor,
além desta imaculada insanidade
e um pedaço mal partido de saudade
que rói meu peito por inteiro e como dói

Primeiro, foi aquele verso
que, inverso, revirou o meu avesso
em segundos, instaurando nele o caos
- frente, verso, lado oposto e o rosto
já não vejo no espelho e nada além
que tua imagem em desafio me comove -

Depois, a languidez desse silêncio sussurrado
escorrendo pelos cantos com encantos que nem sei

...e a frase pendurada na janela como alerta
fere mais e mais maltrata a inspiração que andava calma

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

CANTO DE SAUDADE


CANTO DE SAUDADE
(Lena Ferreira)


Choro minha dor sozinha
na solitude do meu canto
só me visita a lua fria
que ia de passagem

Choro minha dor e choro tanto
que alago o canto de saudade
de quem partiu por vaidade
não suportou a vida leve

Choro pesado e dor moída
lembrar teu rosto, réu frio,
dizendo em um segundo
palavras espessas
que não dissera
em tantos ontens

ontens ávidos
vividos
ontens vívidos
devidos


Choro minha dor sozinha
e por chorar-te tanto e tanto
meu ar é raso, é pouco,
é findo
é leve bruma
que vem vindo
na madrugada imensa
à morte
corte
fio

terça-feira, 11 de setembro de 2012

APENAS


APENAS
(Lena Ferreira)

E é tão breve o lenitivo do instante
apenas uma gota, apenas uma, num mar sedento;
não mais ansioso, nem mais tão urgente
mas castigado pelas ondas leves

...que roçam o canto adormecido e frio
acalentado pela ausência das horas,
dos dias, segundos e luas suspensas
acordando a saudade abruptamente

...que, assustada, sacode os olhinhos sonolentos,
tropeça na fugacidade dos passos miúdos e caros
e tombando numa poça de verdades, engole o grito,
afaga segredos tantos e resguarda-lhes dos rasgos
inevitáveis pela inconstância de sentir-te; só


...que, pelo simples fato de te amar, há penas