sexta-feira, 31 de agosto de 2012

ENTRE ESTROFES E DELITOS


ENTRE ESTROFES E DELITOS
(Lena Ferreira)

E vi caírem pouco a pouco, uma a uma,
as nuvens grávidas de cismas absurdas
que ocultavam as estrelas cintilantes
dependuradas pelos céus de tanta mente.

Precipitadas, inundaram o vão do abismo
tanto cinismo em versos e risos amuados
e transformaram num inferno, o paraíso
então mordido pelos lábios inclementes.

Caíam todas, tantas, tontas em vertigens,
eram fuligens as provas do extinto caso
não por acaso, irrefutável; só delírios.

No julgamento, não contaram com a sorte
acharam a morte antes de chegarem à boca;
morreram loucas entre estrofes e delitos.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

DONA MOÇA


Felicidade não se bota na janela, dona moça!
É como louça que requer certo cuidado
para que o vento, ao soprar com toda força,
não se compraza em ver cacos por todo lado

- Lena Ferreira -

terça-feira, 28 de agosto de 2012

DA ILUSÃO


DA ILUSÃO
(Lena Ferreira)

Como se fosse possível te esquecer
dobrei a esquina de um pensar aflito
fechando os olhos ao ventar cortante
que motivava a inconstância dos dias

Disfarcei a instabilidade persistente
com  frases fortes de acidez tão mordaz
cutucando todas as feridas de um passado
tão presente; sem futuro, sem carinho

Andei a esmo e esbarrei no precipício
que teve início antes mesmo de um fim
qual ventania alvoroçando pensamento
de desamar-te a todo custo... e nada

Ao iludir-me com essa possibilidade
caí no abismo dessas letras infundadas

- onde esquecer-me de ti buscava
foi que achei o amar-te ainda mais -

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

SORRISO ESTELAR


SORRISO ESTELAR
(Lena Ferreira)
.
E no momento em que o mar comeu estrelas,
rasguei minha alma inteira, loucamente
um grito ao longe ecoou, sofrido e cúmplice
às nesgas de um vazio imenso, devorando céus
.
Peneira de sonhos mortos, oceano suspenso
rogo-te pragas e deliro com uma leve punição
não ouso nada mais que te amar por mais um ontem
mas a palavra certa é muda e aperta o peito; tanto
.
Portanto, singrarei esse oceano redescoberto
à procura do teu rastro, que poeira prateada...
na fresta da minha alma, com a calma que me resta
acomodarei mansamente o teu sorriso estelar...

sábado, 25 de agosto de 2012

CICLO


CICLO
(Lena Ferreira)

Ainda brinco com nuvens, tantas
e viajo nas imagens bem criadas
tão etéreas, soberanas, instantâneas
que num piscar de olhos se transformam
se desfazem, se refazem
e me fazem comparar
com a vida, que tão breve
que num sopro
num suspiro
escapole
e engole
nossos planos
por enganos
pelos danos
chovemos...

E o ciclo, então, recomeça!

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

DECIFRA-ME


DECIFRA-ME
(Lena Ferreira)

Um paradigma
ou um paradoxo
ou nada disso

com muito mais
ou muito menos
compromisso
carrego estigma
pelo ócio
e pelo vício

por querer mais
e nada mais
que um verbo omisso

Se sou benigna
ou sou maligna
ou mero enigma
te imploro:
decifra-me
enquanto
te devoro

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

FLOR DE LÓTUS


FLOR DE LÓTUS
(Lena Ferreira)

Vê aquela flor? Então repara
com sua delicada exuberância
suave, exala a sua fragrância
não há aqui o que se compara

Pode não ter nascido onde sonhara
mas suporta com toda tolerância
ensinamento que trago da infância
numa lembrança vivaz, tão cara:

Qual seja o lugar onde se nasça
- num castelo ou ambiente tenebroso
ou um jardim cuidado em excelência -

Sê uma flor de lótus que, com graça
nascida num terreno pantanoso
perfuma-o com o melhor da sua essência

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

PR'ESSA


PR'ESSA
(Lena Ferreira)

Cessa tudo
que a hora pede
cessa e mede
o que te sai da boca

Cessa a muita
falta de cuidado
cessa e cuida
do que tens ao lado

- do que tens nutrido
a tua alma?
- de que te adianta
esse teu verbo?

Cessa e volta
pr'um novo começo
sem mudar o nome
ou endereço

Cessa a pressa
sem impôr um preço
cessa pr'essa
que te tem apreço

terça-feira, 7 de agosto de 2012

SUBLIMA


SUBLIMA
(Lena Ferreira)

A rima sem auto-estima
desanima meu poema
independente do tema

Anima! Vem, me redima
resolve o meu problema
encontro-me num dilema

Vem logo e me sublima;
faze-me tua obra-prima

SOSSEGO


SOSSEGO
(Lena Ferreira)

Debaixo daquela árvore
deitei; pensamento aflito
abafada pelo grito
de uma situação tão grave

Esperei vento suave
levasse o desassossego
e ensinasse o desapego
dissolvendo o meu entrave

Debaixo daquela árvore
passei quase todo o dia
suportando a ventania
que anuncia temporais

Sufoquei todos os ais
quando voaram as folhas;
por suas próprias escolhas
nos galhos não estão mais

Debaixo daquela árvore
vi chegando a noite fria
me trazendo a calmaria
numa brisa tão suave

Sossegada, já sem trave
nos olhos e o peito ameno
adormeço no sereno
debaixo daquela árvore

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

BASTANTE


BASTANTE
(Lena Ferreira)

Que me baste
essa brisa leve
a roçar meu rosto
sucumbindo a agonia
de alcançar a ponta do vento

Que me baste
esse sol matutino
a temperar minha pele
sufocando a necessidade
de provocar vulcões adormecidos

Que me baste
este verso mal escrito
a acariciar o meu pensamento
silenciando o desejo incontido
de fazer ouvir os meus lamentos

Que me baste...

sábado, 4 de agosto de 2012

MUNDO PARALELO


MUNDO PARALELO
(Lena Ferreira)

Não tente me encontrar no que escrevo:
minha mente cria um mundo paralelo
onde o azul é o sol e o amarelo
colore o céu e todo o seu relevo

Queria esconder mas eu não devo
e conto agora a intenção do elo
que faz-me construir tantos castelos
com mil degraus que levam-me aos enlevos:

Dessas viagens que faço às plagas
eu trago o lenitivo para as chagas
abertas mas ocultas em algum peito

Por isso, peço, não me rogue pragas
por colocar minha escrita deste jeito
perdão mas seguirei com meu defeito

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

VERÃO


(Lena Ferreira)

E sinto a madrugada escorrer
pelos olhos frios de inverno
enquanto escolho a semente certa
para plantar dentro do peito

Meu grande alento, no momento
é o ensaio da tímida certeza
de que o sol me espera à frente
mesmo que acima das densas nuvens

Que, qual fumaça de locomotiva,
esconde o azul que, rindo,me acena
então, serena, cubro-me e me deito
ajeito o pensamento fertilizado

Adormecendo levemente, sonho
com a colheita farta em flores
anestesiando dores e cansaços
perfumando os laços renováveis

Desperto com o quarto alaranjado
vivo, intenso e tão quentinho
de braços dados com a brisa morna
vem a esperança do novo destino

...logo, logo, verão

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

ÀS VEZES


ÀS VEZES
 (Lena Ferreira)

 Às vezes, a vida apronta:
 Ciladas, decepções
 Que sangram os corações
 Com flechas de fina ponta
 A alma, então, desmonta
 Difícil; em quem confiar?
 Melhor é me entregar
 Aos braços da poesia
 Amanhã é um novo dia,
 E o sol volta a brilhar