sexta-feira, 13 de julho de 2012

DEIXA-ME


DEIXA-ME
(Lena Ferreira)

Deixa-me
porque não sou mansa
há em mim vulcões adormecidos
faíscas dormentes, fagulhas incendiárias
flamejantes intentos contidos por conveniência
que acabastes de despertar, inconvenientemente

Deixa-me
porque teu não olhar-me, cansa
há em ti esse ar provocativo e indecente
convulsionando mente e pele, afogueando a visão
entorpecendo a boca, secando a saliva, travando a garganta
quando cantas, pelos cantos, os teus feitos imprudentes

Deixa-me
porque o ódio breve avança
há em mim tempestades caudalosas
raios faiscantes, trovões ensurdecentes
chuvas ácidas de letras transbordando o leito
de um rio, antes sereno, hoje sujo em palavras
que recusam-se a calar o meu verbo incandecente

Deixa-me
porque o vento forte me alcança
há em mim uma enorme sede de apagar as marcas
do desdito, despropósito impensado, cicatriz ainda quente
mas por hora, deixa-me arder na chama e na espuma; necessito
remoer cada expressão exclamada nos meus olhinhos aflitos
purgando o verso mal dito por tua boca amanhecida em bafores
fazendo queimar a imagem mais pura que podia oferecer-te imunemente

Deixa-me...

Nenhum comentário:

Postar um comentário