terça-feira, 31 de julho de 2012

MAGIA


MAGIA
(Lena Ferreira)

E pelo filtro, passavam todos os sonhos;
 os possíveis, os palpáveis, os sondáveis
sacudindo as penas de um destino novo
revelando os passos ajustados a seguir

E ficava eu, admirando aquela linda dança
como criança que desperta vendo o sol
e sorria com as possibilidades mágicas
purpurinadas nos meus olhos marejados

Até que, enfim, eu me lancei àquilo tudo
e abraçada a cada sonho tão sonhado
beijei o vento, agradecida e despedi-me
dos sonhos eufóricos e desesperados

...que pelo filtro não conseguiram passar

segunda-feira, 30 de julho de 2012

(...)


...
(Lena Ferreira)

Das cartas que não escrevo, quieta
debulho sentimentos vários em desvarios
engulo vírgulas, pontuo cansaços
exclamo fracassos em interrogações

Das sensações que me escapam em linhas
sobra-me, sozinha, a sanidade, reticente
que mente, ao fechar tantas portas
mas abrindo as comportas da alucinação

(..sobre os  versos lúcidos que morrem 
sem ânimo de virem ao mundo)

domingo, 29 de julho de 2012

SONETO MAL TRAÇADO


SONETO MAL TRAÇADO
(Lena Ferreira)


Foi teu olhar inebriante que vestiu
minh'alma inteira com tão doce sensação
que o meu olhar mais nada, nada, nada viu:
bate meu peito em pulso forte; explosão

Da tua boca desejosa, escapoliu
o que, há tempos, vem calando o coração
e com sussuros derramados, me induziu
a explanar, neste soneto, a sensação

Que te ofereço agora, com muito cuidado
versos aflitos, que não querem se calar
e que nasceram deste peito enamorado

Enquanto entrego-te, me ponho a rezar
a Deus; que aceites o soneto mal traçado
mas inspirado em tanto, tanto, te amar

sexta-feira, 27 de julho de 2012

MARESIA


MARESIA
(Lena Ferreira)

Dormi com tua voz roçando meu pensamento
em sussurros desavisados espasmódicos
lançando-me às paredes inaudíveis
dos quatro cantos de minha alma eufórica

Delirante, cavalguei por madrugadas
em sonhos ou seria realidade?
somente eu sei o que senti naquelas horas
onde tu vinhas e roubava-me o descanso

Ah...Se tu soubesses o efeito que causaste
- da inoperãncia da razão na minha mente -
farias muito mais do que fazes agora

Adentrarias no meu canto assim, silente
silenciarias o meu verbo com um beijo
e soprarias maresia em minha pele

quinta-feira, 26 de julho de 2012

DESTE QUASE


DESTE QUASE
(Lena Ferreira)

Guardando a medida do  imo
num pote transbordante de alento
leve, livre, solto, vento teso e  intenso
despretensiosamente calmo, vejo-te

Instigante, intrigante, semi-oculto
na penumbra da janela enluarada
passeando em deleite à brisa vaga
deslizando pelos pensamentos vãos

- que os meus -


A cada tentativa de falar-te-me
letras saltam à frente num impulso; fátuo,
denunciando meus sentires, antes em disfarce


Desde sempre, procuro no verbo silente, que teu, inteiro
a resposta que fora escrita num amanhã de outrora
orvalhando o presente distante; deste quase, sempre meu

quarta-feira, 25 de julho de 2012

SERENO SORRISO


SERENO SORRISO
(Lena Ferreira)

Enfim a calma dos primeiros dias
retorna, pouco a pouco, para casa
que agora aspira um ar de harmonia
e de puro frescor; não mais de brasa.

Enfim palavras claras e bem francas
desmentem as verdades inventadas
que deixaram borradas telas brancas
dizendo tudo num dizer de um nada.

Enfim o fim da tempestade forte
trovões e raios a deixar à morte
o sentimento a dois mais que preciso.

Enfim um novo rumo, um novo norte
nnum vento morno que restaura a sorte
e traz, de volta, o sereno sorriso.

terça-feira, 24 de julho de 2012

CARENTE


CARENTE
(Lena Ferreira)

Eu sinto falta de quando me abraçava
tão mansamente e ternamente me dizia
os versos todos da mais linda poesia
e com um beijo, tanto amor me declarava

E parecia que o tempo não passava
era um momento eternizado em alegria
sinceramente, eu jamais conseguiria
me esquecer de como a alma transpirava

Eu sinto falta, muita falta, do abraço
que me envolvia, desfazendo meu cansaço
e me fazia ser um ser tão mais contente

Com um sorriso amarelado, eu disfarço
toda saudade mas por dentro, me desfaço;
do seu abraço, eu estou muito carente

segunda-feira, 23 de julho de 2012

SER FELIZ


SER FELIZ
(Lena Ferreira)

Isso de ser feliz
é para quem tem braços
de abraçar a vida
sem grandes cerimônias
 - corajosamente -
.
É para quem
saúda o vento,
sorri para o sol
beija a brisa morna
bebe nuvens; tantas!
ouve a estrondosa canção
dos trovões, sem estremecer.
.
É para quem conta
as infinitas gotículas da chuva
e fecha os olhos, apertados,
ao aspirar o perfume de uma flor.
.
(...)

E é também para quem, ao final do dia,
deita-se com a lua, coberto de nuvens
e põe-se a namorar estrelas
até o amanhecer.

domingo, 22 de julho de 2012

DESPEDIDA


DESPEDIDA
(Lena Ferreira)

Que seja breve essa minha despedida
que eu parta como um sopro seco
silencioso, inodoro e sem salvas.

Vida curta, vida curta! Te mereço!

Pago o preço - nem tão alto - por só ser
Afinal, amar demais e amar a tudo
é absurdo, é insensato e o pior:

São tantos dedos, tantos ditos, tantos danos
tantos ritos, tão insanos sob os panos
que os meus planos de viver eternamente
escorreram pelos vãos das minhas mãos.

Se acaso ouvires a voz do vento surdo
soprando mansamente ao pé do teu ouvido
pode ser que seja eu que, finalmente,
tenha aprendido a amar devidamente.

(mesmo que seja tarde demais.)

NA BEIRA DO ABISMO


NA BEIRA DO ABISMO
(Lena Ferreira)

Nesses dias de solidão solícita 
amordaço os gestos delicados
palavras se debatem na parede
onde fatos revelados se desbotam

A língua salivando o meu passado
sorri, em desespero, do presente
um gélido resquício que míngua
pelas tentativas sucessivas e vãs

Voam atritos contritos, conflitos 
voam, letras de sangue e suor
ricocheteando, atingem o quadro
que retratava todo o romantismo

Volto às fotos que me revelam
paisagens, passagens, cinismo
vertendo lágrimas petrificadas
cultivo flores na beira do abismo

sábado, 21 de julho de 2012

SEGREDO


SEGREDO
(Lena Ferreira)

Há dias de alvoroço; fora e dentro
e por mais que se tente, é impossível
encontrarmos o centro, o eixo, o nexo
e tudo vira resto; sobra, pouco, nada

O silêncio, solidário, doa-me sua voz
já que a minha dói pelo excesso de ar
das palavras de pedra atiradas ao vento
quebrando os telhados de zinco e cipó

Esses dias passam e me pego tranquila
esquecida das coisas, lembrando de mim
deitada em seus olhos, cândidos e nus
quando o tempo, calmo, morria lá fora

Aqui dentro, tudo é tão vívido, tão meu
por cautela, evito sussurrar seu nome; medo
de que assim, o vento espalhe meu segredo
fazendo esses dias tranquilos passarem também


sexta-feira, 20 de julho de 2012

LONGA ESPERA


LONGA ESPERA
(Lena Ferreira)

Quem dera  fosse obra do acaso
sentir o que estou sentindo agora
a dor no peito e os olhos rasos
pressinto que está chegando a hora

Mas não é este, creia, o meu desejo
quisera estar contigo eternamente
bebendo das delícias dos seus beijos
provando das carícias mais frementes

Quisera mas é hora da partida
e a dor aumenta com a despedida
dos olhos caem lágrimas sinceras

Me abrace forte e eu te levo comigo
dentro da pele, eu te faço um abrigo
pra suportarmos essa longa espera

terça-feira, 17 de julho de 2012

EM SI


EM SI
(Lena Ferreira)


É silencioso agora o canto
encontro um pueril encanto
recôndito contido de um ser
após, bravamente, desapegar-se 
daqueles pavores excitáveis
desmemorando os torpes laços
rompendo com os vis apelos

Refreando o pulsar do medo
acorda a alma fera e feminina 
em notas de ternura e acalanto
nos braços de quem lhe acalma
nos passos de quem tem alma

Atendendo ao chamado a tempo
o vento soprou tão manso; quase brisa
e abraçada a calma oferecida
descansa, mansa no seu canto
 
Seu canto de silêncio
encanto de silêncio
de silêncio
em silêncio
em si 

TE AMO NÃO É BOM DIA


 (Lena Ferreira)

Amar, amar, amar...
Amar não é isso que apregoam as salas
em gritos alardiados e insanos:
te amo, por toda parte

" Te amo não é bom dia! "

Não!

Aprendo todo dia e aprendo cada dia mais
que amar é calma, é silenciosa prece
é exílio, confinamento racional sem dor
é leitura braille tateando a alma; é toque
é seriedade, mansidão, reticências, é luz
é sacrossanta palavra, imaculada no altar

...da voz

segunda-feira, 16 de julho de 2012

CÉU DE INVERNO


CÉU DE INVERNO
(Lena Ferreira)

E vejo, num silêncio solene,
a noite caminhar suavemente
com passinhos despreocupados
abraçada à uma neblina calma
que arrepia os pés do vento

Pouco a pouco, estende um véu
de um negrume vertiginoso
suavizado, somente, pelo rutilar
dos diamantes infinitos e vários
e uma pérola rara, cintilante,
bordados, caprichosamente,
para enfeitar o céu de inverno

OUTRAS PALAVRAS


OUTRAS PALAVRAS
(Lena Ferreira)

Enquanto chovem letras
observo a formação, atenta,
de palavras pesadas, obsoletas,
que, inutilmente, tentam
me aprisionar

E me ajustar

Resguardo-me dessa chuva...

Aguardo pelo estio; em breve
virão com o vento, qual borboletas
letras enxutas, macias e leves
e assim, outras palavras em piruetas
irão se formar

E me transformar

sábado, 14 de julho de 2012

ADERÊNCIA


ADERÊNCIA
(Lena Ferreira)

Eflúvios de proporção cristalina
vestem os tantos mergulhos de nós
entre espumas rutilantes e fartas
entre os afagos calmos e precisos

- pelos cantos contidos dos apelos
pelos veios ocultos e distintos -

Aderem peles e pelos e impudicos
entregamo-nos, inteiros, ao momento
descolando esse tempo que morre
lento, vagarosamente lento e só

- pelos cantos do cômodo conforto
pelos meios improváveis do instinto -

Nessa mansidão demorada e morna
pétalas de estrelas purpurinadas
orbitam em incensuráveis delícias
perfumando promessas impossíveis

OUTROS FIOS


OUTROS FIOS
(Lena Ferreira)

E dança a menina
ao sabor da brisa
pensamento vago

Bem perto do lago
uma dor a escraviza
que até  a desatina

Lânguida e leve
suspiros macios
silêncio profundo

Percorre o mundo
mergulho no estio
do momento breve

E dança, e dança
em dó, rodopios
em  si, contradança

Até que alcança
enfim, outros  fios
de nova esperança 

sexta-feira, 13 de julho de 2012

DEIXA-ME


DEIXA-ME
(Lena Ferreira)

Deixa-me
porque não sou mansa
há em mim vulcões adormecidos
faíscas dormentes, fagulhas incendiárias
flamejantes intentos contidos por conveniência
que acabastes de despertar, inconvenientemente

Deixa-me
porque teu não olhar-me, cansa
há em ti esse ar provocativo e indecente
convulsionando mente e pele, afogueando a visão
entorpecendo a boca, secando a saliva, travando a garganta
quando cantas, pelos cantos, os teus feitos imprudentes

Deixa-me
porque o ódio breve avança
há em mim tempestades caudalosas
raios faiscantes, trovões ensurdecentes
chuvas ácidas de letras transbordando o leito
de um rio, antes sereno, hoje sujo em palavras
que recusam-se a calar o meu verbo incandecente

Deixa-me
porque o vento forte me alcança
há em mim uma enorme sede de apagar as marcas
do desdito, despropósito impensado, cicatriz ainda quente
mas por hora, deixa-me arder na chama e na espuma; necessito
remoer cada expressão exclamada nos meus olhinhos aflitos
purgando o verso mal dito por tua boca amanhecida em bafores
fazendo queimar a imagem mais pura que podia oferecer-te imunemente

Deixa-me...

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Descarto todos os meus... Ás




Descarto
todos
os meus
Ás

Risos
ou prantos
Tanto
Faz

Poesia
em naipes
sorvido de
mistérios

Desviro
Descarto
teu olhar
ébrio

Dama
sem rei
de alma
voraz

Que
passo,
repasso e
descarto
todos
os meus

Ás

Fim de partida.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

GEADA


GEADA
(Lena Ferreira)

E rigoroso
veio o inverno
cobrindo, inteiro,
outro jardim

Cobriu a grama
e a roseira
que aguardava
um outro fim

Cobriu a casa
do teto ao chão
que esperava
um outro sim

Cobriu o sonho
do amor eterno
dormente, inverno
espero, enfim

Que o sol derreta
toda a má água
que a primavera
acorde em mim

DESTINO


DESTINO
(Lena Ferreira)

Escrevo uma carta
pro destino
e entrego a um menino
o papel
que o transforma
num barco pequenino
e o deita no mar
de um azul céu

Vai, percorra o oceano,
carta minha,
e rompa as fronteiras
desse plano
fico aqui aguardando,
tão sozinha,
que dissolva as barreiras
do engano

terça-feira, 10 de julho de 2012

NA AREIA


NA AREIA
(Lena Ferreira)

Há sussurros que ouço à distância
e me falam desse amor sofrido
que nasceu num peito compungido
por não ter, da presença, constância

E não sente, da pele, a fragrância
e não ouve, da boca, o gemido
declarando um amar condoído
mas suporta com fé e tolerância

De que logo o encontro se faça
superando a distância que o mar
esses olhos, saudosos, embaçam

Logo, logo, irão se encontrar
beberão do amor na mesma taça
na areia, entre juras de amar

segunda-feira, 9 de julho de 2012

SUBVERSÃO


SUBVERSÃO
(Lena Ferreira)

E ouço vozes
vertiginosas e roucas
subvertendo o tempo
tão escasso.

Arrastando o passado
pro presente
maculando a prosperidade
do futuro.

Em tons ferozes
debatendo-se, loucas
invertem a direção do vento
tão mormaço.

Apelo às vozes, com cuidado:
ponham, logo, dormente
essa inútil insanidade
de abraçar o escuro!

Subvertam essas vozes
debilitadas e moucas
cheias de ressentimento;
tão fracasso!

Revertam esse enfado,
conscientes
de onde mora a verdade;
no amor puro!


MENOS, TEMPO!


MENOS, TEMPO!
(Lena Ferreira)

O tempo anda sem paciência
corre tão apressado
levando consigo
informações valiosas
deixando pra trás
as de origem fúteis

Não tem por ninguém complacência
corre despreocupado
negando o abrigo
às ações belicosas
que desprezam a paz
em atitudes inúteis

De vento, virou ventania
e transforma o dia
em noite; inclemente!

Pro bem da minha alegria
rogo ao tempo, harmonia
seja menos impaciente!

sexta-feira, 6 de julho de 2012

EM ONDAS


EM ONDAS
(Lena Ferreira)


Deitados nesse mar de ardente chama
nas ondas de uma cristalina espuma
sorvendo gota a gota, uma a uma
com a sede que possui quem muito ama

Amor intenso que ao peito conclama
a uma entrega absoluta que consuma
todas as forças e a alma se resuma;
deixe marcas indeléveis que chama

Em ondas tão perfeitas; vem e vão
embalam esses corpos, já suados
e alimentam a sensação tão doce

Em ondas que os levam à explosão;
dois corpos totalmente saciados
descansam como se somente um fosse

GESTAÇÃO


GESTAÇÃO
(Lena Ferreira)
.
Gestei este poema com carinho
Cuidando desde a  fecundação
Qual ave que encontra o seu ninho
Aconcheguei-o na  inspiração

Deitei-o num papel, qual branco linho
E o embalei bem perto ao coração
Meu peito que estava em desalinho
Se acalmou com a doce canção

Gestei este poema, cautelosa
Temendo em mimá-lo; muito prosa
Acarretando, a ele, uns problemas

Posso sentir as cólicas do parto
Vejo o ponto final que não aparto;
Nasce aqui mais um de meus poemas

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O SILÊNCIO DO LAGO

O SILÊNCIO DO LAGO
(Lena Ferreira)

Faltou-me falar desse silêncio
paralisando as águas do lago
enquanto penso, num tom amargo
nas coisas frias que me cercam
nas coisas tristes que me abraçam

Esse silêncio morde meu orgulho
enquanto revisito os meus planos
do insano mundo onde eu mesma
me perco em inúteis considerações
rodando em círculos tão sofríveis

Faltou-me falar desse silêncio
que cala aquela brisa confortante
e aponta-me os erros prováveis
em um tom intrigante e assaz

Esse silêncio fere-me, sangrando
os dedos calejados que gotejam
mas mergulhando-os nessas águas
sacudirei esse mórbido silêncio
afogando as mágoas possíveis e sós

SEMENTE


SEMENTE
(Lena Ferreira)

Não, eu não tenho mais aquela pressa
aquela que me fazia cortejar os abismos
e namorar precipícios futuros; incertos passos
tropeços natos em relatos infundados

Hoje, dou-me o prazer de saborear palavras
e tirar o sumo do silêncio casto com cuidado
tateando signos, semelhanças e segredos; os meus
sabendo que do nada sei tão pouco e de tudo, nada sei

Busco em mim a paz para estampar um sorriso novo
e por gosto, transito leve entre nuvens virgens
aguardando pela chuva que fará florir rica semente
na mente, antes ansiosa, que agora espera pacientemente

No peito, pulsa um amor puro - o próprio - e bastante
capaz de levar adiante a certeza de que sendo assim
poderei amar ao outro com muito mais leveza; fato!

E assim tenho seguido em frente, passos miúdos
e não me iludo no trajeto, convocando os meus dias
pra me acompanharem nessa lida leve e infinda
que me brinda em descoberta de um pouco mais de mim.

terça-feira, 3 de julho de 2012

NUANÇAS


NUANÇAS
(Lena Ferreira)

Queria teus passos, brancos qual nuvens
de um céu azul límpido como os teus olhos
teus dedos, queria-os num tom rosáceo delicado
a perfumar todo o segredo escondido na pele

Teus beijos, queria-os num vívido carmim
qual pétalas acetinadas de uma rosa virgem
queria teus olhares alaranjados qual pôr do sol
deitando-se detrás das colinas do meu corpo

Queria teu amor líquido, agridoce, refrescante
em aroma de alfazema, alilasado, inspirando-me
num quasar alucinante de um poema imperfeito
e prosa, transpiraria tuas nuanças de ternura

AVENTUREIROS


AVENTUREIROS

(Lena Ferreira)
.
Teima em vadiar o meu peito frio
sai toda noite pelo mundo afora
buscando mesas e copos vazios
pra derramar a mágoa que aflora
.
Esbarra com a solidão no caminho
sua companheira de todas as horas
enlaça-se em seu braço: um ninho
lembrando-se que nunca fora embora
.
Seguem os dois sem rumo certeiro
dobram minha esquina-pensamento
e encontrando o meu bar-sofrimento
.
Sentam-se à mesa - coração inteiro -
deixam-se estar - dois aventureiros-
bebendo a mágoa do meu momento

segunda-feira, 2 de julho de 2012

QUEM FOI?


QUEM FOI?
(Lena Ferreira)

Porque sonhei contigo, eu não sei
havia colocado nossa história
quietinha na caixinha de Pandora
a sete chaves e me resguardei

De seus olhares ternos, sedutores
de suas muitas mãos, dos seus carinhos
do seu silêncio manso, descuidado
também da distração que me feria

Por que acorda agora essa lembrança
bem dentro do meu sonho e que perturba
a noite que ia calma e tão secreta
bagunça o meu peito, antes sereno?

Quem foi que achou as chaves de reserva
e abriu o cofre dos meus sentimentos?
- os mais cortantes, que nem mais lembrava
do quanto ainda sangravam e doiam -

Quem foi?

Ser...









Desfaço os enganos sentidos com o intuito de ao Sol ver se encerrar. Quero noite. Quero azul limpinho. Pintar estrelas de pergaminho. Tecer a lua com pandeiro...
... Ser samba, ser baiana, ser mulata branca para o meu xangô aquecer teu corpo inteiro. 


Renascer no frio da noite ao sopro do Mar. Quero rezas. Quero vozes de brisa. Aninhar meu canto entre os coqueiros. Gemer melodias como passarinho. Tricotar pernas em areia fina...
...Ser frevo, ser ciranda, ser carnaval e tua colombina.


Esquecer as horas e ver cair faíscas, seja chuva ou estrelas-cadente. Quero pétalas. Quero vermelho do véu. Ser asas de rapina. Voar além menina, mulher...
...Ser musa, ser guia, ser magia e tua companheira de fé.


Recrio linhas e traços da Poesia no intuito do Sol rever nascer. Quero dia. Quero azul borradinho. Sem cinza. Com flores. Sem pincéis. Com amores...
...Faça-se em mim como quiseres ser, que eu te seja para me seres e a partir de então sem mais dores, só as muitas e diversas cores.






Bia Cunha