sexta-feira, 22 de junho de 2012

QUINTANEANDO O TEMPO


QUINTANEANDO O TEMPO
(Lena Ferreira)

Ah, Mário, se por aqui ainda andasses
com pés de passarinho e letras aladas
quintaneando o teu silêncio, confirmarias
o alvo certo do teu aforismo sobre o tempo
que com passos assustadoramente fungíveis
engole fatos, fotos, ventos, velas, elementos
vulneráveis sentimentos; bem dissestes
 tanto tempo e o dito permanece imutável
a não ser pelo próprio espaço que, caduco
não consegue acompanhar a avalanche
de informações que chegam de toda parte
e reparte a mente em tantos pedaços
sem que, cada parte partida, absorva
verdadeiramente, o que há em cada fato

Os tempos são outros, Mário, são sim
adornam a distância com  a própria distância
entornam à inconstância mais inconstância
em toques progressivamente superficiais
porém tranquilizo-te, poeta; deito, como tu
nas citações dos outros sobre mim; assim
sereníssima, tranquila, calma e equilibrada
andarei sob essas impressões atemporais
sob a promessa de não levar para o túmulo
o acúmulo do tudo que posso fazer no agora

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